O que nos faz tomar a decisão de comer? Você já comeu além das necessidades do seu corpo e não entendeu por que os sinais de saciedade não foram suficientes para fazer você parar?
Compreender os fatores fisiológicos e psicológicos envolvidos com o comer (ou não comer) é fundamental para entendermos o comportamento alimentar. A fome fisiológica é uma combinação de estímulos sensoriais e necessidade energética, que fazem com que busquemos comida. E embora a privação energética seja o principal estímulo de fome, nós, seres humanos também comemos por outras razões que não só as nutricionais.
Além da fome fisiológica existe outro sinal que interfere na nossa decisão de comer ou não, chamado de fome hedônica, ou apetite. Esta corresponde ao desejo de comer em resposta ao quanto um alimento ou grupo de alimentos nos atrai, gerando prazer. E como podemos ver na figura 1, existem diferentes informações relacionadas com uma refeição, que são enviadas pelo corpo e integradas pelo cérebro.
Os alimentos industrializados apresentam combinações de ingredientes, que não só conferem sabor atraente, como são ricos em açúcares e gorduras. Essas características podem afetar regiões cerebrais, que compõem o que chamamos de sistema de recompensa. Essas regiões respondem a estímulos sensoriais como a aparência, o odor e o sabor dos alimentos podendo se sobrepor à fome fisiológica.
A atração que sentimos pelos alimentos é modulada pela dopamina, molécula sinalizadora no cérebro, que influencia diversos processos como aprendizado, emoção, locomoção e consumo alimentar. Existem 3 principais vias dopaminérgicas, sendo uma delas a mais importante para o desenvolvimento da preferência alimentar (via mesolímbica, como mostra a figura 2). E como no nosso corpo nenhum evento é simples, apesar da sinalização de dopamina ser fundamental para o processo de recompensa alimentar, ela não age de maneira isolada. Assim, existem outras moléculas sinalizadoras igualmente importantes, como a serotonina, por exemplo.
Se você está se perguntando o que seria recompensa alimentar, eu explico. Diferente do significado que conhecemos (de acordo com o dicionário, seria um reconhecimento ou retribuição a algo), no caso do comportamento alimentar, seria um evento composto por 3 processos independentes: o prazer gerado pelo alimento, a motivação por buscar determinado alimento e o aprendizado de que esse alimento desperta boas sensações, o que chamamos de reforço positivo.
Agora que você sabe o que é recompensa alimentar, fica mais fácil entender por que comemos além das nossas necessidades nutricionais. E que a maioria das pessoas que comem em excesso não o fazem por opção. Existem eventos no nosso corpo, como o de recompensa, que estimulam o consumo alimentar mesmo na ausência da fome, com consumo excessivo de energia, contribuindo para o desenvolvimento da obesidade.
Assim, diferente do que costumamos aprender sobre obesidade, ela não é um simples desbalanço de energia. O peso corporal é resultado da interação entre a ingestão e o gasto de energia, bem como interações genéticas, hormonais e ambientais. Sendo a dopamina o primeiro mensageiro no cérebro de uma cascata de eventos que faz com que um alimento atrativo saia da mesa para a sua boca, gerando prazer e bem estar, que é um dos atributos do ato de comer. Por isso que é tão importante que profissionais da saúde conheçam tais processos, para que consigam entender melhor os eventos que estão por trás das escolhas alimentares das pessoas, promovendo orientações mais conscientes.
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Referência Bibliográfica
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- Morton, J.G.; Meek, H.T.; Schwartz, M.W. (2014). Neurobiology of food intake in health and disease. Nature Reviews
- Alverenga, M.; Figueiredo, M.; Timerman, F.; Antonaccio, C. (2015). Nutrição Comportamental. Barueri, São Paulo, Manole
- Cameron, J.D.; Chaput, J.P.; Sjödin, A.M.; Goldfield, G,S. (2017). Brain on Fire: Incentive Salience, Hedonic Hot Spots, Dopamine, Obesity, and Other Hunger Games. Annual Review of Nutrition