O trigo é um dos cereais mais consumidos na Europa e América. Principal fonte de glúten, ele é responsável por diversas doenças denominadas Doenças Relacionadas ao Glúten. O reconhecimento de que as reações ao glúten não se limitam à doença celíaca levou ao desenvolvimento de um documento, em 2012, através de um consenso entre um grupo de 15 especialistas internacionais liderados por Anna Sapone, pesquisadora do Centro de Pesquisa de Biologia da Mucosa, da escola de Medicina da Universidade de Maryland, nos EUA. Sugeriu-se uma nova nomenclatura e classificação, com três condições induzidas pelo glúten – doença celíaca, alergia ao trigo e sensibilidade ao glúten não celíaca.

 

Tecnicamente, a Doença Celíaca (DC) seria uma resposta imunológica intensificada ao glúten em indivíduos que possuem o gene da doença. A alergia ao trigo é definida como uma reação imunológica às proteínas do trigo mediada por uma imunoglobulina chamada IgE – pode apresentar-se com sintomas respiratórios (“asma do padeiro” ou rinite, mais comum em adultos), alergia alimentar (sintomas gastrintestinais, urticária, angioedema ou dermatite atópica; principalmente em crianças) e urticária de contato. Os testes para alergia ao trigo incluem dosagem sérica de IgE ou testes cutâneos para o trigo. A sensibilidade ao glúten não-celíaca é uma forma de intolerância ao glúten quando a doença celíaca e a alergia ao trigo foram excluídas. A frequência de ocorrência das duas primeiras é de 1%, e a terceira chega a afetar 6 a 10 % da população, sendo mediada por IgG ou IgA.

Doença Celíaca

A Doença Celíaca já foi considerada uma patologia extremamente rara e típica de indivíduos com ascendência europeia. Hoje, no entanto, um número crescente de pesquisas indicam que a DC é encontrada em todo o mundo, chegando a atingir 1 em cada 100 pessoas no mundo todo. Imagine a DC como uma pirâmide: na ponta está uma parcela da população que apresenta graves e frequentes sintomas relacionados à DC (diarreia, má absorção e dores abdominais) e que pode ser diagnosticada com exatidão através de uma análise detalhada da mucosa intestinal (biópsia intestinal). No meio da pirâmide encontram-se indivíduos com sintomas, mas longe de serem consideradas como parte da DC e que pode ser detectada através de exames de anticorpos no soro. Por fim, na base da pirâmide encontra-se 20 a 30% das pessoas que carregam um gene com susceptibilidade à DC (o HLA-DQ),mas que não tem manifestações clínicas da doença.

 

Alergia ao trigo

Um estudo sobre o trigo publicado no Journal of Experimental Botany relatou que 8% dos aprendizes de padeiro do Reino Unido adquirem alergia ao trigo em apenas 2 anos de exposição diária à farinha.  As proteínas do trigo, gliadina e glutenina, foram encontradas como sendo o “gatilho” que reagem com a imunoglobulina E (IgE). Os sintomas de alergia ao trigo mediada por IgE podem incluir rinite, asma, urticária, angioedema e conjuntivite. Os pacientes também podem desenvolver fezes soltas, dor abdominal e agravamento de eczema (que tendem a ocorrer dentro de algumas horas de ingestão do trigo). Muitos trabalhos científicos recentes estão desvendando as frações proteicas do trigo e os mecanismos pelos quais o grão causa diversas manifestações alérgicas em todo o corpo, inclusive no sistema nervoso central.

 

Sensibilidade ao glúten

A sensibilidade ao glúten é considerada uma nova condição, cuja manifestação são sintomas intestinais ou extraintestinais (fora do intestino) e que melhoram, ou mesmo desaparecem, após a retirada do glúten, mesmo em indivíduos com intestino saudável. Presume-se que essa condição atinja uma população muitas vezes maior que os celíacos. Indivíduos com a Síndrome do Intestino Irritável sentem muitas vezes os mesmos sintomas que celíacos, no entanto, não apresentam os mesmos anticorpos que celíacos, mas sentem uma melhora considerável ao retirar o glúten da dieta.  Isso porque o glúten quando mal digerido, “cola” na mucosa do intestino provocando uma reação inflamatória em cascata que obriga o sistema imunológico a liberar substâncias chamadas citocinas, que tentarão “combater” esse agressor do intestino.

 

Antonio Carroccio e sua equipe publicaram um estudo no The American Journal of Gastroenterology em 2012, que recrutou 920 indivíduos com sintomas de Síndrome do Intestino Irritável (SII) que apresentavam sensibilidade ao trigo. Eles foram submetidos a 4 semanas de um período sem trigo na dieta. Depois de voltar a ingerir o trigo por uma semana, um terço dos participantes (n=276) apresentou sintomas de hipersensibilidade ao alimento. Vinte e cinco por cento deles fizeram mais um teste que mostrou alergia somente ao trigo.

 

A sensibilidade ao glúten é frequentemente percebida pelos próprios pacientes e, ao consultar um médico para tentar um diagnóstico de Doença Celíaca ou, pelo menos, de alergia ao trigo, eles saem do consultório sem diagnóstico nenhum, tampouco com exames clínicos que possam detectar uma alergia alimentar à gliadina mediada por IgE. É uma condição que cria a inflamação por todo o corpo, com efeitos de amplo alcance em todos os órgãos, incluindo o cérebro, coração, articulações, sistema digestivo, e outros. Ela pode ser uma das causas (e não a única obviamente) por detrás de muitas condições “novas, misteriosas e crônicas”. Quais por exemplo? Enxaquecas frequentes que não cessam, dificuldade em perder peso, falta de concentração, compulsão alimentar por carboidratos, falta de qualidade no sono são algumas delas.   A tentativa de eliminação do glúten por um período pode ser decisivo para fechar um diagnóstico clínico e melhorar os sintomas, quem sabe, definitivamente.

 

Médicos e nutricionistas mais conservadores afirmam que apenas indivíduos com doença celíaca são intolerantes ao glúten – diga-se de passagem, não excedem nem a 1% da população mundial – e devem excluí-lo da dieta. Enquanto que uma nova frente de profissionais da saúde ressaltam as diversas consequências maléficas que o consumo excessivo de trigo (e consequentemente glúten) traz à saúde.

Estão chegando no Brasil exames para fazer o diagnóstico da sensibilidade ao glúten não celíaca, que podem ser solicitados por seu médico. São testes que pesquisam IgG e IgA ao glúten ou outras proteínas do trigo.

 

Para descobrir se você é uma entre as milhares de pessoas que sofrem de sensibilidade ao glúten não celíaca, basta fazer um teste clínico simples que já pode dar uma grande pista:

 

DIETA DE ELIMINAÇÃO / REINTRODUÇÃO

Esse teste é feito por um curto período de tempo (2 a 4 semanas) e pode ajudar a identificar a sensibilidade ao glúten. Após esse período observe seus sintomas.

 

Não devem ser consumidos os seguintes alimentos:

 

– Glúten (cevada, centeio, aveia, espelta, kamut, trigo, além de observar os rótulos de alimentos e cosméticos);

– Fontes ocultas (misturas de sopas, saladas, molhos, vitaminas, medicamentos e batom).

 

A eliminação deve ser de 100% por, pelo menos, 2 semanas. Após este período, pode reinseri-lo novamente na dieta e observar os seus sintomas, se melhoraram com a exclusão e pioraram com a reintrodução, você está sensibilizado ao trigo.

Testes assim nos ajudam a nos conhecer melhor e, de fato, detectar se a alimentação está mexendo com algum órgão específico ou no sistema como um todo, e sendo um estresse para o sistema ou uma fonte de energia para a vida.

 Fonte: Revista Essentia Pharma